UM TIPO DE ASSASSINOS MÚLTIPLOS

 

Logo após o massacre de Newtown, Conn., no qual um rampage killer matou a tiros 27 pessoas, predominantemente crianças de uma escola, o jornal USA TODAY fez um levantamento das violências ocorridas nos Estados Unidos nas que há vários mortos. Chegaram à conclusão de que, na média, há um ataque de assassinos múltiplos cada duas semanas – incluindo tudo, desde assaltos a mão armada até massacres por rampage killers, tecnicamente falando. Os rampage killers são um tipo particular de assassinos múltiplos. Matam várias ou muitas pessoas, um em seguida da outra, em geral no mesmo lugar – escolas, igrejas e locais de trabalho são alguns dos preferidos.Porém, os dados não são coletados e organizados de acordo com os critérios da Criminologia. Outros critérios são usados: pelos do FBI, assassinos múltiplos (categoria mais geral, à qual pertencem os rampage killers), são os que matam quatro pessoas ou mais. De 2006 a 2010, inclusive, houve 156 ataques nessa rubrica. Como são, pelo menos, quatro mortos para entrar na rubrica, os mortos foram mais numerosos do que os ataques: 774 pessoas morreram, inclusive 161 crianças pequenas.Idade das Vítimas

Vários pesquisadores estudam os assassinatos múltiplos, inclusive os rampage killers. James Alan Fox é um deles. Segundo Fox, a população acredita que são poucos cada ano, porque se limitam a um tipo particular de rampage killings, o que aparece com destaque na mídia nacional. Outro erro é achar que todos esses assassinatos seguem o mesmo padrão: um assassino doente mental, agindo só, armado até os dentes, que ceifa vidas de inocentes. O rampage killer que matou as crianças na escola primária Sandy Hook em Newtown se encaixa nesse perfil mas, em seu total, esses assassinos solitários matam perto de metade das vítimas de assassinatos múltiplos.

E a outra metade?

Uma em cada quatro dessas mortes resulta da ação de duas pessoas ou mais, usualmente em assaltos e tipos perigosos de arrastões.

Embora a grande maioria seja vitimada por armas de fogo, incêndios criminosos deixam vítimas. Nesse levantamento, 2% das vítimas morreram em incêndios. Se incluirmos incêndios culposos, o número é muito maior. Em alguns países, inclusive o Brasil, são frequentes os naufrágios culposos, com muitas mortes por afogamento em cada um deles. Podem ser considerados assassinos múltiplos, mas não rampage killers.

Há mais: embora as armas de fogo tenham um predomínio absoluto, em 3% das mortes foram usadas outras armas, como facas, facões, pedras etc. Alguns rampage killers usam combinações de armas – todas as que estiverem disponíveis e que eles possam carregar. Dado o volume, é frequente o uso de mochilas, sacos e até malas.

Nos Estados Unidos, quando se fala em rampage killings, muitos pensam em lunáticos com armas de alto poder, mas a maioria das mortes se deve a disparos com armas de mão.

Podemos analisar os rampage killings a partir das vítimas, que apresentam um perfil pungente: uma em cinco tem 12 anos ou menos. Os homicidas, ao contrário, são majoritariamente jovens adultos: a idade média é de 32 anos.

Talvez para desenvolver uma teoria explicativa dos rampage killers devamos começar com o fato de que quase todos são homens. Quaisquer que sejam os fatores explicativos – genéticos, psiquiátricos, culturais etc – eles passam e estão relacionados com o sexo dos homicidas. São do sexo masculino.

Grant Duwe acrescentou conhecimento com suas pesquisas, muitas das quais estão incluídas no livro de 2007, Mass Murder in the United States: A History. Duwe teve acesso aos arquivos das prisões, concluindo que 60% dos assassinos múltiplos são doentes mentais. Duwe agrega uma importante dimensão analítica: uma parcela considerável dos assassinatos múltiplos são de familiares, indivíduos doentes, cada um matando muitos familiares, entre adultos e crianças. Talvez um dos homicídios mais chocantes seja o de filhos e filhas por mães, pais, madrastas, padrastos e combinações entre eles. A mídia se horroriza, acompanha esses casos e influencia o público.

Com base em dados reconhecidamente incompletos, Duwe conclui que os assassinatos múltiplos estão decrescendo nos Estados Unidos.

Fox, em entrevista concedida em fevereiro de 2013 a Megan McArdle, ridiculariza a ideia de que os assassinos em série são lunáticos que surtam e matam muitas pessoas: “Eles surtam e por coincidência carregam uma AK-47 e duas mil balas”… A maior parte dos assassinos múltiplos matam conhecidos. Acham que têm motivos suficientes para matar e que suas ações são justificadas. Planejam detalhadamente suas ações.

Um dos pontos mais discutidos na entrevista é o efeito-imitação. Em vários casos, assassinos em série buscaram inspiração ou poder de decisão nas notícias sobre assassinos em série que os precederam. As pesquisas sobre suicídios comprovaram que existe o “Efeito Werther”. Para não estimular mais suicídios, há um protocolo chamado de “Consenso de Viena” que propõe o que se pode publicar sem aumentar o risco e o que não se deve publicar.

O objetivo é informar sem estimular.

 

Saiba mais:

James Alan Fox e Harvey Burstein: Violence and Security on Campus: From Preschool through College

James Alan Fox e Jack Levin: Extreme Killing: Understanding Serial and Mass Murder

 

 

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

 

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