Arquivo da categoria: interação entre pesquisadores e policiais

Narcotraficantes – sócios garantidores dos Bancos Internacionais

O tráfico no Rio e o crime organizado transnacional
Os verdadeiros chefes do narcotráfico no Rio de Janeiro são ligados à rede do crime organizado transnacional que movimenta no sistema bancário internacional cerca de 400 bilhões de dólares por ano. A situação que vemos no hoje no Rio, diz o jurista Wálter Maierovitch, reflete um quadro internacional, onde as polícias só conseguem apreender entre 3 e 5% das drogas ofertadas no mercado. “É preciso ter em mente essa dimensão global do crime organizado na hora de buscar soluções para enfrentar o problema em nossas cidades”, defende.
Marco Aurélio Weissheimer
Os verdadeiros chefes do narcotráfico no Rio de Janeiro são ligados à rede do crime organizado transnacional que movimenta no sistema bancário internacional cerca de 400 bilhões de dólares por ano. Esses são os grandes responsáveis pela violência e pelo tráfico de drogas e armas em todo o mundo. A situação que vemos no hoje no Rio reflete um quadro internacional, onde as polícias só conseguem apreender entre 3 e 5% das drogas ofertadas no mercado. É preciso ter em mente essa dimensão global do crime organizado na hora de buscar soluções para enfrentar o problema em nossas cidades. A avaliação é do jurista Wálter Maeirovitch, colunista da revista Carta Capital e ex-secretário nacional antidrogas da Presidência da República. 
Compreender essa dimensão global é condição necessária para evitar discursos e propostas de soluções simplistas para o problema. Maierovitch dá um exemplo: “Os produtos principais do tráfico de drogas são a maconha e a cocaína. Tomemos o caso da cocaína. Sua matéria prima, a filha de coca, é cultivada nos Andes, especialmente no Peru, Bolívia, Colômbia e Equador. No entanto, a produção da cocaína exige uma série de insumos químicos e nenhum destes países tem uma indústria química desenvolvida. O Brasil, por sua vez, possui a maior indústria química da América Latina”. Ou seja, nenhum dos países citados pode ser apontado, isoladamente, pela produção da cocaína. Essa “indústria” tem um caráter essencialmente transnacional.
Novas tendências das máfias transnacionais
Presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de Ciências Criminais, Wálter Maierovitch é um estudioso do assunto há muito tempo. O livro “Novas Tendências da Criminalidade Transnacional Mafiosa” (Editora Unesp), organizado por ele e por Alessandra Dino, professora da Universidade Estadual de Palermo, trata dessas ramificações internacionais do crime organizado. A primeira Convenção Mundial sobre Crime Organizado Transnacional, organizada pela ONU, em 2000, em Palermo, destacou o alto preço pago ao crime organizado internacional em termos de vidas humanas e também seus efeitos sobre as economias nacionais e sobre o sistema financeiro mundial, onde US$ 400 bilhões são movimentados anualmente. 
Em 2009, diante da crise econômico-financeira mundial, o czar antidrogas da ONU, o italiano Antonio Costa, chamou a atenção para o fato de que foi o dinheiro sujo das drogas funcionou como uma salvaguarda do sistema interbancário internacional. “Os bancos não conseguem evitar que esse dinheiro circule, se é que querem isso”, observa Maierovitch. A questão da droga, acrescenta, é muito usada hoje para esconder interesses geopolíticos. Muitos países são fortemente dependentes da economia das drogas, como é o caso, por exemplo, de Myanmar (antiga Birmânia), apontado pela ONU como o segundo maior produtor de ópio do mundo (460 toneladas), e de Marrocos, maior produtor mundial de haxixe.
Tráfico de armas sem controle
Uma grave dificuldade adicional que os governos enfrentam para combater o narcotráfico é que ele anda de mãos dadas com o tráfico de armas. O Brasil é um dos maiores produtores de armas leves do mundo. Em 2009, a indústria bélica nacional atingiu o recorde do período, com a fabricação de 1,05 milhões de revólveres, pistolas e fuzis, segundo dados da Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército. A falta de controle sobre a circulação de armas, observa Maierovitch, é um problema grave. Quando um carregamento com armas sai de um porto brasileiro, explica, exige-se um certificado de destinação. Mas, depois que o navio sai do porto, perde-se o controle. O certificado diz, por exemplo, que as armas vão para Angola. Mas quem garante que, de fato, foram para lá? Esse certificado serve para que, então? – indaga o jurista.
O quadro que vemos hoje no Rio, insiste Maierovitch, precisa ser amplificado para que possamos ver todas essas conexões com o crime organizado transnacional, que atua em rede com nós funcionando como pontos de abastecimento e distribuição. Essas redes são flexíveis e estão espalhadas pelo mundo, acessíveis a quem assim o desejar. Há várias portas de entrada para ela e identificar suas ramificações não é tarefa simples. O jurista cita o caso da cocaína. Cerca de 90% da cocaína consumida hoje nos Estados Unidos vem da Colômbia e entra no país pelo México. E 90% das armas utilizadas pelos cartéis mexicanos vêm dos Estados Unidos. Ou seja, há duas vias de tráfico na fronteira entre EUA e México: por uma circulam drogas e pela outra, armas.
Pacificação x Militarização
Neste cenário global de expansão e ramificação do crime organizado, Maierovitch considerou surpreendente e muito importante a recente ação policial no Rio de Janeiro, na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão. Essa ação, destaca, traz elementos importantes que devem marcar a ofensiva contra o crime: reconquista de território, retomada do controle social nas comunidades, garantir cidadania e liberdades públicas à população que vive nestas áreas. A política que vem sendo implementada pelo governo do Rio, acrescenta, está baseada num conceito de pacificação e não de militarização como ocorreu, por exemplo, no México, onde o governo de Felipe Calderón colocou o Exército na linha de frente da guerra contra o narcotráfico e está perdendo essa batalha, com um grande número de vítimas civis.
No Rio, prossegue, o que houve foi uma reação a ataques espetaculares cometidos pelo tráfico, mas a política é pacificadora. “No início do governo de Sérgio Cabral fui um crítico à política que ele estava implementada e que seguia essa linha adotada no México. Mas agora a política é outra e merece apoio. Maierovitch critica o que chama de “ataques diversionistas” contra o governo estadual, que o acusam de favorecer as milícias ao focar sua ofensiva no Comando Vermelho e no Amigos dos Amigos. “Esse diversionismo só favorece o crime organizado. Há territórios que estão sendo retomados e rotas de tráfico interrompidas. É possível e fundamental reestabelecer a cidadania no Rio de Janeiro”, defende. 
Trata-se, em resumo, de uma luta permanente, global e em várias frentes, onde cada metro de terreno conquistado deve ser valorizado e cada derrota imposta ao crime organizado servir como aprendizado para maiores vitórias no futuro. Maierovitch conclui: “A Itália é a terra da máfia, é verdade, mas também se tornou a terra da luta contra a máfia. Precisamos aprender com essas experiências.”
Fotos: Polícia mostra drogas, armas e munições apreendidas no Complexo do Alemão (Marcello Casal Jr./ABr)
Extraído do sítio Carta Maior
Força Internacional de Paz, intelectuais, interação entre pesquisadores e policiais, drogas, cocaína durante a gravidez, custos da legalização da maconha, as drogas financiam os bancos 

Narcotraficantes – sócios garantidores dos Bancos Internacionais

O tráfico no Rio e o crime organizado transnacional
Os verdadeiros chefes do narcotráfico no Rio de Janeiro são ligados à rede do crime organizado transnacional que movimenta no sistema bancário internacional cerca de 400 bilhões de dólares por ano. A situação que vemos no hoje no Rio, diz o jurista Wálter Maierovitch, reflete um quadro internacional, onde as polícias só conseguem apreender entre 3 e 5% das drogas ofertadas no mercado. “É preciso ter em mente essa dimensão global do crime organizado na hora de buscar soluções para enfrentar o problema em nossas cidades”, defende.
Marco Aurélio Weissheimer
Os verdadeiros chefes do narcotráfico no Rio de Janeiro são ligados à rede do crime organizado transnacional que movimenta no sistema bancário internacional cerca de 400 bilhões de dólares por ano. Esses são os grandes responsáveis pela violência e pelo tráfico de drogas e armas em todo o mundo. A situação que vemos no hoje no Rio reflete um quadro internacional, onde as polícias só conseguem apreender entre 3 e 5% das drogas ofertadas no mercado. É preciso ter em mente essa dimensão global do crime organizado na hora de buscar soluções para enfrentar o problema em nossas cidades. A avaliação é do jurista Wálter Maeirovitch, colunista da revista Carta Capital e ex-secretário nacional antidrogas da Presidência da República. 
Compreender essa dimensão global é condição necessária para evitar discursos e propostas de soluções simplistas para o problema. Maierovitch dá um exemplo: “Os produtos principais do tráfico de drogas são a maconha e a cocaína. Tomemos o caso da cocaína. Sua matéria prima, a filha de coca, é cultivada nos Andes, especialmente no Peru, Bolívia, Colômbia e Equador. No entanto, a produção da cocaína exige uma série de insumos químicos e nenhum destes países tem uma indústria química desenvolvida. O Brasil, por sua vez, possui a maior indústria química da América Latina”. Ou seja, nenhum dos países citados pode ser apontado, isoladamente, pela produção da cocaína. Essa “indústria” tem um caráter essencialmente transnacional.
Novas tendências das máfias transnacionais
Presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de Ciências Criminais, Wálter Maierovitch é um estudioso do assunto há muito tempo. O livro “Novas Tendências da Criminalidade Transnacional Mafiosa” (Editora Unesp), organizado por ele e por Alessandra Dino, professora da Universidade Estadual de Palermo, trata dessas ramificações internacionais do crime organizado. A primeira Convenção Mundial sobre Crime Organizado Transnacional, organizada pela ONU, em 2000, em Palermo, destacou o alto preço pago ao crime organizado internacional em termos de vidas humanas e também seus efeitos sobre as economias nacionais e sobre o sistema financeiro mundial, onde US$ 400 bilhões são movimentados anualmente. 
Em 2009, diante da crise econômico-financeira mundial, o czar antidrogas da ONU, o italiano Antonio Costa, chamou a atenção para o fato de que foi o dinheiro sujo das drogas funcionou como uma salvaguarda do sistema interbancário internacional. “Os bancos não conseguem evitar que esse dinheiro circule, se é que querem isso”, observa Maierovitch. A questão da droga, acrescenta, é muito usada hoje para esconder interesses geopolíticos. Muitos países são fortemente dependentes da economia das drogas, como é o caso, por exemplo, de Myanmar (antiga Birmânia), apontado pela ONU como o segundo maior produtor de ópio do mundo (460 toneladas), e de Marrocos, maior produtor mundial de haxixe.
Tráfico de armas sem controle
Uma grave dificuldade adicional que os governos enfrentam para combater o narcotráfico é que ele anda de mãos dadas com o tráfico de armas. O Brasil é um dos maiores produtores de armas leves do mundo. Em 2009, a indústria bélica nacional atingiu o recorde do período, com a fabricação de 1,05 milhões de revólveres, pistolas e fuzis, segundo dados da Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército. A falta de controle sobre a circulação de armas, observa Maierovitch, é um problema grave. Quando um carregamento com armas sai de um porto brasileiro, explica, exige-se um certificado de destinação. Mas, depois que o navio sai do porto, perde-se o controle. O certificado diz, por exemplo, que as armas vão para Angola. Mas quem garante que, de fato, foram para lá? Esse certificado serve para que, então? – indaga o jurista.
O quadro que vemos hoje no Rio, insiste Maierovitch, precisa ser amplificado para que possamos ver todas essas conexões com o crime organizado transnacional, que atua em rede com nós funcionando como pontos de abastecimento e distribuição. Essas redes são flexíveis e estão espalhadas pelo mundo, acessíveis a quem assim o desejar. Há várias portas de entrada para ela e identificar suas ramificações não é tarefa simples. O jurista cita o caso da cocaína. Cerca de 90% da cocaína consumida hoje nos Estados Unidos vem da Colômbia e entra no país pelo México. E 90% das armas utilizadas pelos cartéis mexicanos vêm dos Estados Unidos. Ou seja, há duas vias de tráfico na fronteira entre EUA e México: por uma circulam drogas e pela outra, armas.
Pacificação x Militarização
Neste cenário global de expansão e ramificação do crime organizado, Maierovitch considerou surpreendente e muito importante a recente ação policial no Rio de Janeiro, na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão. Essa ação, destaca, traz elementos importantes que devem marcar a ofensiva contra o crime: reconquista de território, retomada do controle social nas comunidades, garantir cidadania e liberdades públicas à população que vive nestas áreas. A política que vem sendo implementada pelo governo do Rio, acrescenta, está baseada num conceito de pacificação e não de militarização como ocorreu, por exemplo, no México, onde o governo de Felipe Calderón colocou o Exército na linha de frente da guerra contra o narcotráfico e está perdendo essa batalha, com um grande número de vítimas civis.
No Rio, prossegue, o que houve foi uma reação a ataques espetaculares cometidos pelo tráfico, mas a política é pacificadora. “No início do governo de Sérgio Cabral fui um crítico à política que ele estava implementada e que seguia essa linha adotada no México. Mas agora a política é outra e merece apoio. Maierovitch critica o que chama de “ataques diversionistas” contra o governo estadual, que o acusam de favorecer as milícias ao focar sua ofensiva no Comando Vermelho e no Amigos dos Amigos. “Esse diversionismo só favorece o crime organizado. Há territórios que estão sendo retomados e rotas de tráfico interrompidas. É possível e fundamental reestabelecer a cidadania no Rio de Janeiro”, defende. 
Trata-se, em resumo, de uma luta permanente, global e em várias frentes, onde cada metro de terreno conquistado deve ser valorizado e cada derrota imposta ao crime organizado servir como aprendizado para maiores vitórias no futuro. Maierovitch conclui: “A Itália é a terra da máfia, é verdade, mas também se tornou a terra da luta contra a máfia. Precisamos aprender com essas experiências.”
Fotos: Polícia mostra drogas, armas e munições apreendidas no Complexo do Alemão (Marcello Casal Jr./ABr)
Extraído do sítio Carta Maior

O IIº Forum Brasileiro de Segurança Pública: Êxito e Vexame


Publicado no Correio raziliense de 12 de abril de 2008

Foi realizado, no Recife, o IIº Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, de 26 a 28 de março. Foi um êxito. Houve perto de seiscentos participantes, quase a metade de fora do estado. Estranhamente, não havia PMs do Estado de Pernambuco nas mesas. As palestras principais, foram dadas em auditórios repletos, de David Bayley, conhecido especialista em estudos sobre a polícia, e de Antanas Mockus, duas vezes prefeito de Bogotá, creditado com boa parte do sucesso que foi o descenso da violência naquele município. Houve interessantes debates, às vezes acalorados, muita troca de idéias, algumas apresentações de resultados de pesquisas. Como em todas as ciências humanas, no Brasil, o achismo ainda predominou. Não obstante, foi um grande salto para a frente.
Na minha opinião, o maior êxito do Forum foi a ampla interação entre pesquisadores e policiais. Desde a ditadura, policiais, particularmente policiais militares, e acadêmicos se vêem com desconfiança. Trabalhos, inclusive pesquisas, em comum eram rejeitados pelas duas partes. Para a esquerda, estudar a polícia era politicamente incorreto; para muitos policiais, não policiais não poderiam saber nada que os policiais não soubessem.
Policiais que quisessem fazer pós-graduação enfrentaram (e enfrentam) inimigos em duas frentes: rejeição na universidade e rejeição na polícia. Até hoje, pesquisadores raramente tem acesso a informações sobre algumas polícias que vivem, ainda, no obscurantismo do regime militar. Mas, nas próprias universidades, o estudo das polícias não é área “nobre” e, até recentemente, o estudo do crime e da violência tão pouco era.
Para empanar o êxito, um vexame. Em países, estados e cidades com um mínimo de cultura cívica, seria impensável que uma prefeitura se comprometesse a ajudar a financiar um evento para sediá-lo e não o fizesse, alegando falta de dinheiro. Os defensores alegaram falta de um nicho orçamentário para pagar as passagens prometidas. Não obstante, foi que aconteceu. Para os participantes, o governo do prefeito João Paulo Lima e Silva, petista, reeleito, faltou com a palavra. “É coisa de bugre”, disse um dos conferencistas. O resultado foi a compra, à última hora, de passagens dentro dos limites impostos ao Ministério da Justiça, muitas das quais em horários incompatíveis com a idade e/ou o estado de saúde dos conferencistas. Obrigar vários conferencistas de 60, 70 e mais anos a viajar às 4 da manhã (quando havia outros vôos, um pouco mais caros) é ofensivo e perigoso. Ficou um gosto amargo na boca dos participantes, dirigido ao Recife e a Pernambuco.
O que foi? Irresponsabilidade, incompetência, ou as duas? Segundo a imprensa local, o mesmo prefeito que não tinha dinheiro (calculado em menos de cem mil reais) para que o Forum se realizasse na capital com uma das mais elevadas taxas de homicídios do país, teve três milhões para bancar o desfile da escola de samba Mangueira no Rio de Janeiro, em troca do tema – Cem Anos de Frevo. O prefeito, para justificar o injustificável, afirmou que a capital pernambucana seria “mostrada para o mundo”. Ironicamente, o compositor da escola de samba Tuchinha, está envolvido com o tráfico de drogas.
Aliás, está na moda que mandatários que não conseguem reduzir a violência em sua jurisdição financiem escolas de samba. Segundo a Veja, Hugo Chávez doou um milhão de reais para a escola de samba Unidos de Vila Isabel, pagos pela PDVSA, estatal do petróleo. Caracas, hoje, é a capital mais violenta da América do Sul e o maior crescimento da violência se deu durante o governo de Chávez.
É uma pena. O brilho de uma conferência importante em um país que luta contra um nível altíssimo de crimes e violências foi empanado por uma atuação irresponsável da Prefeitura do Recife. O IIIº Encontro está marcado para Vitória. Esperemos que município e estado tenham um desempenho à altura.

Gláucio Ary Dillon Soares.

O IIº Forum Brasileiro de Segurança Pública: Êxito e Vexame


Publicado no Correio raziliense de 12 de abril de 2008

Foi realizado, no Recife, o IIº Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, de 26 a 28 de março. Foi um êxito. Houve perto de seiscentos participantes, quase a metade de fora do estado. Estranhamente, não havia PMs do Estado de Pernambuco nas mesas. As palestras principais, foram dadas em auditórios repletos, de David Bayley, conhecido especialista em estudos sobre a polícia, e de Antanas Mockus, duas vezes prefeito de Bogotá, creditado com boa parte do sucesso que foi o descenso da violência naquele município. Houve interessantes debates, às vezes acalorados, muita troca de idéias, algumas apresentações de resultados de pesquisas. Como em todas as ciências humanas, no Brasil, o achismo ainda predominou. Não obstante, foi um grande salto para a frente.
Na minha opinião, o maior êxito do Forum foi a ampla interação entre pesquisadores e policiais. Desde a ditadura, policiais, particularmente policiais militares, e acadêmicos se vêem com desconfiança. Trabalhos, inclusive pesquisas, em comum eram rejeitados pelas duas partes. Para a esquerda, estudar a polícia era politicamente incorreto; para muitos policiais, não policiais não poderiam saber nada que os policiais não soubessem.
Policiais que quisessem fazer pós-graduação enfrentaram (e enfrentam) inimigos em duas frentes: rejeição na universidade e rejeição na polícia. Até hoje, pesquisadores raramente tem acesso a informações sobre algumas polícias que vivem, ainda, no obscurantismo do regime militar. Mas, nas próprias universidades, o estudo das polícias não é área “nobre” e, até recentemente, o estudo do crime e da violência tão pouco era.
Para empanar o êxito, um vexame. Em países, estados e cidades com um mínimo de cultura cívica, seria impensável que uma prefeitura se comprometesse a ajudar a financiar um evento para sediá-lo e não o fizesse, alegando falta de dinheiro. Os defensores alegaram falta de um nicho orçamentário para pagar as passagens prometidas. Não obstante, foi que aconteceu. Para os participantes, o governo do prefeito João Paulo Lima e Silva, petista, reeleito, faltou com a palavra. “É coisa de bugre”, disse um dos conferencistas. O resultado foi a compra, à última hora, de passagens dentro dos limites impostos ao Ministério da Justiça, muitas das quais em horários incompatíveis com a idade e/ou o estado de saúde dos conferencistas. Obrigar vários conferencistas de 60, 70 e mais anos a viajar às 4 da manhã (quando havia outros vôos, um pouco mais caros) é ofensivo e perigoso. Ficou um gosto amargo na boca dos participantes, dirigido ao Recife e a Pernambuco.
O que foi? Irresponsabilidade, incompetência, ou as duas? Segundo a imprensa local, o mesmo prefeito que não tinha dinheiro (calculado em menos de cem mil reais) para que o Forum se realizasse na capital com uma das mais elevadas taxas de homicídios do país, teve três milhões para bancar o desfile da escola de samba Mangueira no Rio de Janeiro, em troca do tema – Cem Anos de Frevo. O prefeito, para justificar o injustificável, afirmou que a capital pernambucana seria “mostrada para o mundo”. Ironicamente, o compositor da escola de samba Tuchinha, está envolvido com o tráfico de drogas.
Aliás, está na moda que mandatários que não conseguem reduzir a violência em sua jurisdição financiem escolas de samba. Segundo a Veja, Hugo Chávez doou um milhão de reais para a escola de samba Unidos de Vila Isabel, pagos pela PDVSA, estatal do petróleo. Caracas, hoje, é a capital mais violenta da América do Sul e o maior crescimento da violência se deu durante o governo de Chávez.
É uma pena. O brilho de uma conferência importante em um país que luta contra um nível altíssimo de crimes e violências foi empanado por uma atuação irresponsável da Prefeitura do Recife. O IIIº Encontro está marcado para Vitória. Esperemos que município e estado tenham um desempenho à altura.

Gláucio Ary Dillon Soares.

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