Arquivo da categoria: Pan e policiamento

Os blogs em 2011

Há muitas diferenças entre os blogs.

Os mais exitosos foram sobre o câncer da próstasta: juntos. cerca de 700 000 acessos; há vários que não decolararam, dois que foram “invadidos” pelos anúncios pornográficos e tive que bloquear. Os dois sobre suicídios são quase constates. Juntos. perto de cem mil. Espero que tenham ajudado muita gente e salvo algumas vídas. É informativo, com ênfase na prevenção. Doi quando leio cartas solicitando instruções sobre como suicidar-se. Os dois blogs criados sobre os derrames, resposta ao sinal de alerta que me foi enviado pelo Padre Airton Freire, servo, tinham um público não trabalhado e cerca de 64 mil páginas visitadas; os dois blogs sobre Conjuntura Criminal começaram bem, mas decaíram, em grande parte porque diminuí o noticiário elaborado que, por sua vez, foi uma decisão baseada no crescimento de bons blogs na área. Estou repensando-os, possivelmente como blogs dirigidos mais para uma elite intelectual e profissional. Menos leitores, mas leitores influentes. Alguns não vingaram e já os terminei; outros andam em nível mais baixo. Tenho que optar. Os blogs não são opinativos, mas implicam em uma varredura das publicações qualificadas sobre um tema, escrever o blog com gráficos que tenho que criar e introduzir (que requerem muito trabalho) isso tudo numa linguagem accessível. 

Em síntese, é muito trabalho. E as dificuldades são grandes. Algumas publicações são pagas e as da área médica são caras; vivo envenenando meu computador de alguns anos, mas é claro que preciso de um mini-servidor. Os mini-servidores não são a entidade cara e assustadora que muitos pensam. Ando namorando um suéco, planejado para rodar em Linux, chamado de Excito B3 que, com wi-fi vende por 365 euros. Outro problemas é como trazê-lo…

Em exatamente um mês terei minha consulta semestral no Sloan Kettering. Aos 77 tenho que viajar na classe executiva, onde viaja o pessoal que tem grana… Ou o tratamento continua como está com seus moderados efeitos colaterais, ou muda para outro, antihormonal, com efeitos bem piores, o que iniciaria tratamentos de menor eficácia (menor extensão da sobrevivência) e efeitos coletarais muito piores.

e sou pai de cinco, avô de cinco, marido de uma (é verdade), pesquiso, oriento, pesquiso, trabalho, pewsquiso, dou aulas, pesquiso, escrevo artigos científicos, pesquiso… e ainda não resolvi um só problema filosófico relevante. Mas o quase milhão e meio de leitores e o sonho de estar ajudando milhares ou centenas de milhares, nem que seja um pouco, faz com que tudo valha a pena. 

Um abraço a todos e, parodiando o padre Aírton Freire, Feliz 2012, 2013, 2020, 2040, 2100… Se festejaram o Natal, meditem, ainda que retroativamente, sobre o aniversariante.

 

Os dados seguem abaixo. São totais cumulativos, a partir do momento em que comecei a blogá-los.

GLÁUCIO SOARES                              IESP/UERJ

 

 

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  Today Yesterday This Month Total  
2 20 33 56,372 Delete
0 0 0 985 Delete
0 0 0 0 Delete
2 35 49 144,099 Delete
26 401 640 350,670 Delete
36 192 311 345,930 Delete
26 400 637 319,771 Delete
6 48 78 20,850 Delete
5 45 62 43,533 Delete
0 0 0 23 Delete
0 17 36 74,641 Delete
7 66 115 90,466 Delete
0 4 18 4,260 Delete
  110 1,228 1,979 1,4

O Rio de Janeiro tem jeito?

Publicado no Correio Braziliense

O Rio de Janeiro tem jeito?

O astral da população carioca melhorou durante os jogos pan-americanos. É o que se diz. Parte da melhoria pode ser explicada pelos bons resultados dos atletas brasileiros que, aliás, era esperada considerando que nas últimas várias edições dos jogos o Brasil vinha melhorando e que há, nos esportes, um poderoso efeito do time de casa.

Porém, houve algo mais: o carioca se sentiu seguro, ou menos inseguro.

Por quê?

Não podemos deixar a mídia de fora. A mídia nacional foi temporariamente dominada pelo desastre com o avião da TAM e pelos jogos pan-americanos. Na mídia carioca os jogos estiveram ainda mais presentes, nem poderia ser diferente: eles foram aqui. Com isso, as notícias a respeito do crime saíram das manchetes e dos horários nobres e sumiram ou foram para páginas e horários de menor realce. Se isso for verdade, parte importante da geração da sensação de insegurança deriva da mídia. O papel da mídia aumenta na medida em que aumenta também a distância física (e social) daquilo que pode ser observado diretamente: as pessoas se sentem mais seguras em suas ruas; um pouco menos nas ruas próximas; um pouco menos em seus bairros e muito menos em lugares e situações distantes e desconhecidas. Não é um fenômeno carioca, mas geral. Em bairros distantes e outras cidades não funcionam a observação pessoal e as redes informais de informação. A informação passa a ser monopolizada pela mídia.

É possível que tenhamos tido uma real redução nos indicadores de crime e de violência. Os dados, completos e corrigidos, ainda não estão disponíveis. Se fôr real, não devemos atribuí-la apenas ao aumento no policiamento ostensivo. A teoria das atividades de rotina, combinada com a noção de risco, pode ser “esticada” para explicar uma possível redução. Muitos jovens, que são os grandes atores (como autores e vítimas) de crimes violentos, giraram ao redor dos jogos durante essas duas semanas, seja participando das torcidas na assistência, seja em casa, pela TV. O risco de vitimização é muito menor nos locais de competição, em residências, assistindo a TV, do que na rua, em boates, biroscas, bailes funk ou pagodes.

Não são todas as festas e acontecimentos que provocam redução na vitimização. Há indicações de que a Copa do Mundo provocou uma redução; porém, juntamente com Cristiano Fernandes, Adrian Pizzinga e Doriam Borges vimos que o Carnaval aumenta a probabilidade de vitimização (Os ritmos da morte, 2005). As festas e eventos que reduzem o crime e a violência são as que retiram os autores e vítimas de situações de alto risco e os colocam em situações de risco mais baixo. O Carnaval faz o contrário: aumenta o risco.

O aumento no policiamento ostensivo reduz o crime, mas o seu raio de influência não é grande, dada a sua dependência em relação aos fatores visuais. Uma pesquisa feita em Buenos Aires mostra que o aumento do policiamento ostensivo na proximidade de sinagogas, escolas e centros de atividades de cidadãos judeus após o bombardeamento de um deles por um grupo neo-nazista reduziu o furto e no roubo de automóveis nas áreas policiadas, mas a redução foi muito limitada espacialmente. Dois quarteirões além da última patrulha os efeitos cessavam. Enquanto aguardamos os dados só podemos especular. A redução só deverá ser observada onde aumentou visivelmente o patrulhamento. Essas áreas coincidem com as atividades do Pan e com a circulação de e para elas. Fora dessas áreas e rotas, o efeito deve ter sido menor – é a minha hipótese. Como os crimes se relacionam com as áreas sociais – há crimes diferentes em áreas pobres e ricas, eu arrisco a hipótese de que roubos e furtos de automóveis diminuíram, assaltos também, sobretudo nas áreas nobres, mas talvez não os homicídios, que acontecem em número muito maior fora das áreas de maior reforço no policiamento.

O otimismo e a sensação de segurança são dois fatores com que os cariocas não estão acostumados. O Estado do Rio de Janeiro (assim como o Distrito Federal) foi dizimado por oito anos de péssimas administrações. Não houve progresso na segurança pública, em flagrante contraste com, por exemplo, o Estado de São Paulo.

A sensação de segurança é importante? É muito importante. Ela afeta a qualidade da vida, que é muito baixa no Brasil, não apenas no Rio de Janeiro. A Pesquisa Social Brasileira, feita em 2002, mostrou que mais da metade da população brasileira sonhou com situações de violência no último mês e 44% acordaram no meio da noite pensando na violência. Em 2003, o Instituto Futuro Brasil realizou uma extensa pesquisa de vitimização em São Paulo, chegando a conclusões semelhantes. Em 2004, o ISP realizou uma pesquisa em oito bairros do Rio de Janeiro, revelando que mais da metade dos entrevistados mudaram seu comportamento em função da insegurança. A cidadania se ajustou aos ritmos do crime, evitando a noite: 79% evitavam chegar muito tarde em casa e 76% evitavam sair à noite. O relógio do crime impõe seus horários à cidadania. Além disso, três em cada quatro procuraram reduzir seu atrativo como vítimas evitando sair com pertences de valor. O medo da violência persegue os brasileiros e as pessoas com medo produzem menos no trabalho, faltam mais, elevam gastos com saúde e muito mais. Os problemas de concentração reduzem o rendimento no estudo e no trabalho. O medo e a insegurança levam ao afunilamento da vida. Vivemos cada vez mais apertados no tempo e no espaço. Assim, uma conseqüência importante da sensação de segurança, baseada ou não na realidade, é a melhoria da qualidade de vida da população.

A problemática é relevante do ponto de vista da democracia. Precisamos de uma cidadania ativa, menos dependente “do governo”. Os governos estão financeiramente e eticamente falidos no Brasil. Não mudarão desde dentro. Uma cidadania ativa e participativa reduz a podridão de políticos, partidos e governos.

O Rio de Janeiro tem jeito?

Publicado no Correio Braziliense

O Rio de Janeiro tem jeito?

O astral da população carioca melhorou durante os jogos pan-americanos. É o que se diz. Parte da melhoria pode ser explicada pelos bons resultados dos atletas brasileiros que, aliás, era esperada considerando que nas últimas várias edições dos jogos o Brasil vinha melhorando e que há, nos esportes, um poderoso efeito do time de casa.

Porém, houve algo mais: o carioca se sentiu seguro, ou menos inseguro.

Por quê?

Não podemos deixar a mídia de fora. A mídia nacional foi temporariamente dominada pelo desastre com o avião da TAM e pelos jogos pan-americanos. Na mídia carioca os jogos estiveram ainda mais presentes, nem poderia ser diferente: eles foram aqui. Com isso, as notícias a respeito do crime saíram das manchetes e dos horários nobres e sumiram ou foram para páginas e horários de menor realce. Se isso for verdade, parte importante da geração da sensação de insegurança deriva da mídia. O papel da mídia aumenta na medida em que aumenta também a distância física (e social) daquilo que pode ser observado diretamente: as pessoas se sentem mais seguras em suas ruas; um pouco menos nas ruas próximas; um pouco menos em seus bairros e muito menos em lugares e situações distantes e desconhecidas. Não é um fenômeno carioca, mas geral. Em bairros distantes e outras cidades não funcionam a observação pessoal e as redes informais de informação. A informação passa a ser monopolizada pela mídia.

É possível que tenhamos tido uma real redução nos indicadores de crime e de violência. Os dados, completos e corrigidos, ainda não estão disponíveis. Se fôr real, não devemos atribuí-la apenas ao aumento no policiamento ostensivo. A teoria das atividades de rotina, combinada com a noção de risco, pode ser “esticada” para explicar uma possível redução. Muitos jovens, que são os grandes atores (como autores e vítimas) de crimes violentos, giraram ao redor dos jogos durante essas duas semanas, seja participando das torcidas na assistência, seja em casa, pela TV. O risco de vitimização é muito menor nos locais de competição, em residências, assistindo a TV, do que na rua, em boates, biroscas, bailes funk ou pagodes.

Não são todas as festas e acontecimentos que provocam redução na vitimização. Há indicações de que a Copa do Mundo provocou uma redução; porém, juntamente com Cristiano Fernandes, Adrian Pizzinga e Doriam Borges vimos que o Carnaval aumenta a probabilidade de vitimização (Os ritmos da morte, 2005). As festas e eventos que reduzem o crime e a violência são as que retiram os autores e vítimas de situações de alto risco e os colocam em situações de risco mais baixo. O Carnaval faz o contrário: aumenta o risco.

O aumento no policiamento ostensivo reduz o crime, mas o seu raio de influência não é grande, dada a sua dependência em relação aos fatores visuais. Uma pesquisa feita em Buenos Aires mostra que o aumento do policiamento ostensivo na proximidade de sinagogas, escolas e centros de atividades de cidadãos judeus após o bombardeamento de um deles por um grupo neo-nazista reduziu o furto e no roubo de automóveis nas áreas policiadas, mas a redução foi muito limitada espacialmente. Dois quarteirões além da última patrulha os efeitos cessavam. Enquanto aguardamos os dados só podemos especular. A redução só deverá ser observada onde aumentou visivelmente o patrulhamento. Essas áreas coincidem com as atividades do Pan e com a circulação de e para elas. Fora dessas áreas e rotas, o efeito deve ter sido menor – é a minha hipótese. Como os crimes se relacionam com as áreas sociais – há crimes diferentes em áreas pobres e ricas, eu arrisco a hipótese de que roubos e furtos de automóveis diminuíram, assaltos também, sobretudo nas áreas nobres, mas talvez não os homicídios, que acontecem em número muito maior fora das áreas de maior reforço no policiamento.

O otimismo e a sensação de segurança são dois fatores com que os cariocas não estão acostumados. O Estado do Rio de Janeiro (assim como o Distrito Federal) foi dizimado por oito anos de péssimas administrações. Não houve progresso na segurança pública, em flagrante contraste com, por exemplo, o Estado de São Paulo.

A sensação de segurança é importante? É muito importante. Ela afeta a qualidade da vida, que é muito baixa no Brasil, não apenas no Rio de Janeiro. A Pesquisa Social Brasileira, feita em 2002, mostrou que mais da metade da população brasileira sonhou com situações de violência no último mês e 44% acordaram no meio da noite pensando na violência. Em 2003, o Instituto Futuro Brasil realizou uma extensa pesquisa de vitimização em São Paulo, chegando a conclusões semelhantes. Em 2004, o ISP realizou uma pesquisa em oito bairros do Rio de Janeiro, revelando que mais da metade dos entrevistados mudaram seu comportamento em função da insegurança. A cidadania se ajustou aos ritmos do crime, evitando a noite: 79% evitavam chegar muito tarde em casa e 76% evitavam sair à noite. O relógio do crime impõe seus horários à cidadania. Além disso, três em cada quatro procuraram reduzir seu atrativo como vítimas evitando sair com pertences de valor. O medo da violência persegue os brasileiros e as pessoas com medo produzem menos no trabalho, faltam mais, elevam gastos com saúde e muito mais. Os problemas de concentração reduzem o rendimento no estudo e no trabalho. O medo e a insegurança levam ao afunilamento da vida. Vivemos cada vez mais apertados no tempo e no espaço. Assim, uma conseqüência importante da sensação de segurança, baseada ou não na realidade, é a melhoria da qualidade de vida da população.

A problemática é relevante do ponto de vista da democracia. Precisamos de uma cidadania ativa, menos dependente “do governo”. Os governos estão financeiramente e eticamente falidos no Brasil. Não mudarão desde dentro. Uma cidadania ativa e participativa reduz a podridão de políticos, partidos e governos.