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AS MORTES VIOLENTAS DE NEGROS AMERICANOS: SEMELHANÇAS COM O BRASIL

Há uma grande diferença entre estados e regiões do mesmo país, particularmente em países grandes e desiguais, no que concerne as taxas de mortes violentas, em geral, e de homicídio, em particular. Porém, não são somente as taxas que variam, mas a sua composição, por exemplo, por nível educacional, por sexos e por raças. O estudo de casos extremos pode ilustrar e esmiuçar muito a respeito desses casos, pode sugerir direcionamento para futuras pesquisas, mas não permite generalizações.

Em 2012, o estado americano de Missouri tinha a mais alta taxa de homicídios de negros do país. Em anos anteriores e posteriores, Missouri ocupou uma posição nada invejável nesse quesito. Uma constatação esperada porque os fenômenos violentos tendem a repetir seus níveis e composição, são estáveis.

Por que Missouri?

Comecemos com os níveis: os dados apresentados pelo Violence Policy Center revelam uma taxa de 35 por cem mil habitantes negros, o dobro da taxa nacional negra americana. É uma taxa muito alta em comparação com as taxas dos países industrializados. É, inclusive, mais alta do que a de vários estados brasileiros (incluindo as populações negra e branca).

A taxa de mortalidade por homicídios nos negros de Missouri é o dobro da taxa nacional dos afro-americanos e oito vezes a taxa nacional americana de 4,5.

Para começar a construir uma explicação, concentramos na cor da população, que responde, em parte, à pergunta “Quem morre?”. São negros. Os negros morrem desproporcionalmente mais.

Continuando nessa linha de questionamento, vemos que são jovens: 23% eram menores de idade. Porém, o dado que mais diferencia a vitimização é o sexo: 84 por cento das vitimas eram homens.

Podemos acrescentar nova linha de perguntas: como morrem? Esse tipo de dado faz uma gigantesca contribuição: 87% foram mortos com armas de fogo. Percentagem da mesma escala de magnitude que no Brasil.

Não é um fenômeno exclusivo de Missouri. A taxa de vitimização de negros era mais alta do que 30 por cem mil em Nebraska, Michigan e Pennsylvania.

Esse perfil da vítima preferencial da violência em Missouri e outros estados americanos apresenta muitas semelhanças com os perfis das vitimas em muitas, muitas cidades e estados no Brasil. Talvez possamos aprender muito trocando informações.

Poderemos basear nossas conclusões em dados empíricos e não em evidencias anedóticas.

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

O medo do crime

Quem tem medo do crime?
Um artigo de Randy L. LaGrange, Kenneth F. Ferraro e Michael Supancic, de 1992, propôs que as “incivilidades do bairro”, tais como casas abandonadas, bêbados na rua, moradores da rua, barulho, sujeira etc., provocam um aumento na percepção do risco de vitimização e no medo.
Os autores entrevistaram telefonicamente 1.101 adultos nos Estados Unidos. Os dados revelam relações estatisticamente significativas entre as incivilidades físicas e sociais e a percepção do risco e relações não tão fortes com o medo. Além disso, a relação entre as incivilidades e o medo passavam pela percepção do risco de vitimização.

Fonte: “Perceived Risk and Fear of Crime: Role of Social and Physical Incivilities” em Journal of Research in Crime and Delinquency, Vol. 29, No. 3, 311-334 (1992).