A análise de 891 homicídios acontecidos no Distrito Federal em 1991 e 1992 adianta o nosso conhecimento a respeito das suas correlatas. Em primeiro lugar, a situação de classe da vítima: 93% das vítimas tinham educação de primeiro grau ou menos, menos de 5% tinham segundo grau e menos de 3% tinham educação universitária.
A composição das armas usadas nos homicídios: diferenças entre os gêneros. A relação entre o tipo de armas usadas para matar e o gênero de quem morre é clara:
- Tanto homens quanto mulheres morrem mais por armas de fogo do que por qualquer outro meio;
- O predomínio das armas de fogo como instrumento do homicídio entre os homens está aumentando;
- No Pará, até 1988, mais mulheres eram mortas por instrumentos cortantes, perfurantes e contundentes do que por armas de fogo; a partir daquela data, as armas de fogo passaram a predominar;
- O predomínio das armas de fogo entre as mulheres também está aumentando;
- Não obstante, em relação aos homens as mulheres morrem menos por armas de fogo e mais por armas cortantes, perfurantes e contundentes.
Os dados de um único ano, dependendo do número de homicídios, podem dar resultados enganosos. Em estados com milhares de homicídios ao ano, isso é difícil de acontecer ao acaso, sendo mais fácil em estados com dezenas de homicídios. Na década de oitenta, o número de homicídios de homens no Pará era da ordem de algumas centenas e o das mulheres de algumas dezenas. O total variou de 467, em 1983, a 813, em 1991, mostrando clara tendência ao aumento.
A análise de todos esses anos revela muitas consistências e é essa a base de dados em que se pode depositar mais confiança. Para cada ano estudado é possível ter uma estimativa da significação estatística dos resultados, de se as diferenças entre as armas usadas para matar homens e mulheres poderiam ser explicadas pelo acaso. É possível, também, avaliar qual o grau de associação entre essas duas variáveis – armas usadas e gênero da vítima.
Significação das Diferenças entre Vítimas Masculinas e Femininas no Concernente às Armas Usadas. Pará, 1983 a 1992 |
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Ano | Valor de X2 | GL | Prob | Phi | |
1983 | 2,224 | 4 | 0,7 | 0,07 | |
1984 | 23,445 | 4 | 0,000 | 0,21 | |
1985 | 28,434 | 6 | 0,000 | 0,24 | |
1986 | 9,485 | 4 | 0,05 | 0,13 | |
1987 | 12,085 | 4 | 0,017 | 0,15 | |
1988 | 40,142 | 5 | 0,000 | 0,26 | |
1989 | 0,765 | 4 | 0,765 | 0,03 | |
1990 | 11,866 | 4 | 0,018 | 0,13 | |
1991 | 13,443 | 4 | 0,009 | 0,13 | |
1992 | 27,733 | 3 | 0,000 | 0,19 |
Dos dez anos analisados, oito nos dão resultados estatisticamente significativos que são compatíveis com os resultados de outros estados. As mulheres são assassinadas de maneira diferente dos homens. Há algumas outras diferenças de gênero que atingem um número menor de vítimas, mas que devem ser levadas em consideração:
- As mulheres, relativamente aos homens, tem mais alta taxa de vitimização de homicídios por estrangulamento e afogamento;
- O grande predomínio das armas de fogo nas mortes de homens faz com que proporcionalmente haja menos homens mortos nas demais categorias, exceto na de lutas e brigas;
- Em consequência, o universo das maneiras através das que as mulheres são assassinadas é mais diverso e variado do que o dos homens.