Arquivo da categoria: cérebro de usuários de drogas

Nascimento e morte de um drogado

O Novo México é um estado americano. É lindo. Tem várias áreas desérticas muito bonitas. Eu gostei muito de uma cidadezinha meio alternativa chamada Taos, com menos de seis mil habitantes. O Novo México faz fronteira com o México e tem forte influência mexicana, inclusive a comida, da qual sou fã incondicional. Há muitos anos, a Universidade do Novo México estava fortalecendo os Estudos Latino-Americanos. Estavam me sondando para sair da Universidade da Flórida e ir para lá. Porém, eu sofro com alergias, inclusive respiratórias, que podem provocar asma. Em algumas horas ficou claro que não dava. O pó e a poeira do deserto estavam em todos os lugares.
Porém, guardei uma imagem bonita, turística, daquele estado.
Hoje, me chegou uma notícia que mostra uma realidade que os cenários esplêndidos não mostravam.
Há quem não saiba que quando uma gestante se embriaga, o bebê dentro da barriga também toma um porre; quando a gestante adquire uma dependência de drogas, o bebê nasce dependente. Já nasce drogado. Triste, muito triste. Muitos morrem em pouco tempo. Quando nascem, o resultado tão pouco é bom. A dependência que acompanha o bebê desde o período intra-uterino faz com que ele tenha crise de abstinência.
Em Lamadera, um casario à margem da estrada estadual NM 111, uma mulher drogada não conseguia lidar com a crise de abstinência de seu bebê recém-nascido. Desesperada, injetou cocaína no bebê. O bebê, claro, morreu. A droga fez com que aquela mulher, longe de ter o seu papel na maternidade, condição exaltada por quase todos, se transformasse em assassina de seu próprio bebê. Pior: colocou-o dentro de um saco plástico de lixo e jogou o cadáver dentro da lixeira coletiva. Foi presa.
Não sei se esse horror ocorreu ontem ou hoje. Não descobri o sexo do bebê sem nome.
Fica a lição: qualquer alteração bioquímica da mãe provoca alteração no bebê antes mesmo de nascer.
Peço que orem pela alma desse bebê.
Peço que orem, também, por essa mãe. Sei que é difícil.

GLÁUCIO SOARES

Mortos que falam

Escrito para publicação no Correio Braziliense

 

A notícia é bombástica: em muitos casos podemos determinar a causa mortis sem necessidade de abrir o cadáver, da necrópsia! Arqueólogos e legistas sempre sonharam com isso; além do que a decisão de abrir o corpo de uma vítima de possível crime é traumatizante para a maioria dos familiares, responsáveis, que devem assinar a permissão.

Como? Com o uso de uma tecnologia tridimensional desenvolvida em Linkoping, na Suécia. Como é feito esse exame?

Em etapas. Primeiro, o corpo passa por uma tomografia computarizada rápida, que dura perto de três segundos. Rápida, sim, mas gera seis gigas de informações. Os pesquisadores, usualmente em função relacionada com a perícia criminal, olham esses dados quantas vezes quiserem. É o que afirma o Dr. Persson, pesquisador principal.

Fazem novos exames que permitem ver mais e melhor; voltam ao corpo e aos dados quantas vezes quiserem; diferente das necrópsias porque quando algo é esquecido ou omitido, há necessidade de reiniciar o processo, reabrindo o corpo e tudo o mais. Não é mágica, mas simplifica muito o trabalho de patologistas e peritos; reduz os mistérios de como a pessoa morreu e serve aos vivos também. Permite contornar as dificuldades de origem religiosa pois judeus e muçulmanos não aceitam com facilidade a necropsia, que é vista como violação do cadáver.  

Essa tecnologia torna a pele transparente. E os peritos podem olhar os músculos, buscar bolhas e outros repositórios de ar. Segundo ele, o que essa tecnologia permite ver – e as necropsias tradicionais não permitem – torna possível que os mortos “falem”. Houve casos nos que não havia suspeita de crime, mas o exame revelou fraturas fora do comum, em lugares que raramente são examinados. Pinçando um caso, Persson lembra: era homicídio e as pesquisas e investigações posteriores o confirmaram.

Essa tecnologia é promissora em outras áreas, além da criminal. Segundo Persson, estão diagnosticando melhor as doenças, inclusive quais afligiam em vida os que agora estão mortos. Podem ver claros sinais de Alzheimer’s no cérebro, podem ver esclerose múltipla, podem contribuir para o diagnóstico de doenças do coração e de todo o sistema cardiovascular.

Persson é poético quando diz que a tecnologia dá voz aos mortos e esperança aos vivos. Entusiasmado, argumenta que o ensino da medicina ficará mais fácil e mais exato. Estudantes não necessitarão de mais de cadáveres e mais cadáveres: aprendizagem sem cadáveres, o sonho de muitos, particularmente dos mais sensíveis cujas especialidades não exigirão esse treinamento. E as equipes cirúrgicas saberão muito mais a respeito do paciente antes de operar, evitando erros.

Com essa novidade, surgiu uma nova palavra, a virtopsy. Que usa tomografias computarizadas e ressonância magnética. Abre caminho para o trabalho em equipe à distância! Com o uso da internet, imagens e arquivos podem ser enviados a especialistas em qualquer parte do planeta. Num julgamento, pesquisadores especialistas e laboratórios especializados poderão participar da análise da massa de dados que lhes for enviadas, reconstruindo o cadáver em seus mínimos detalhes nos seus próprios computadores. A despeito de investimentos iniciais pesados, o grande inconveniente da participação de técnicos e especialistas que residem longe do local do julgamento, que é a necessidade de abandonarem suas vidas e seus quotidianos durante dias ou semanas, fica muito reduzido, uma vez que o tempo necessário passa a ser de horas e pode ser feito do seu escritório, laboratório ou residência. Em alguns anos, um julgamento no interior de Rondônia ou do Piauí poderá contar com a participação de técnicos de outros lugares, eletronicamente presentes, aptos a contribuir para que a melhor justiça seja feita.

A necropsia virtual não é um conceito novo. A “reconstrução” feita por legistas e peritos forenses é um conceito antigo. Agora usam métodos visuais, a partir da tomografia computarizada, da ressonância magnética, das biopsias orientadas pelas imagens, pela angiografia e outros recursos. A integração desses recursos é que reduziu custos e possibilitou saber mais. Não foi tarefa fácil, integrar tipos diferentes de imagens. Idéia antiga, técnica recente, mérito de Richard Dirnhofer, de Berna e da sua equipe. Pessoalmente, acredito que, como acontece com muita freqüência, uma idéia criativa, original, se difunde rapidamente e outras pessoas – muitas – contribuem para melhorá-la. O futuro pode estar mais próximo do que pensávamos.

 

GLÁUCIO SOARES   IESP-UERJ

 

Estão assassinando mais negros do que brancos

Revista Carta Capital

O carnaval vai de novo celebrar a “união das raças”, mas não se iluda: nunca foi tão profundo o fosso entre a segurança de brancos e negros. De cada 3 assassinados, 2 têm a pele preta

Entre as páginas 24 e 28 a jornalista Cynara Menezes desenvolve uma importante matéria sobre a violência homicida e o impacto da variável raça/etnia.

Trecho da matéria:

“Obviamente, a desigualdade é um dos fatores a explicar esse abismo. Quanto mais um país enriquece e proporciona condições semelhantes a seus cidadãos, mais a criminalidade tende a diminuir. Mas ela não é o único fator a ser levado em conta. O Brasil experimentou um bom crescimento da economia nos últimos anos, associado a uma maior distribuição de renda. Mesmo assim, a melhora nos números de violência tem sido pontual, quando não cresce, a depender da localidade analisada. “A ineficácia das instituições de coerção também tem um peso importante no estado das coisas”, diz o cientista político José Maria Nóbrega, professor da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba.

Sobre a incrível curva ascendente dos homicídios em seu estado natal, sobretudo no Maranhão, qua já foi o mais tranquilo e em dez anos quadruplicou os assassinatos, Nóbrega é partidário da mesma teoria de vários de seus colegas estudiosos da violência: como apliou-se o cerco nas maiores capitais do País – Rio e São Paulo, onde diminuíram os homicídios -, o foco da criminalidade deslocou-se para as cidades menores e para outras regiões. ‘A violência não migrou apenas do Sudeste para o Nordeste, mas das áreas metropolitanas para o interior. A Paraíba é uma exceção, porque ainda não se aplicaram políticas sérias contra o crime na capital’.

O resultado é que tanto João Pessoa quanto em municípios menores os índices explodiram nos últimos anos. No Mapa da Violência, a capital paraibana aparece como a quarta onde os homicídios mais cresceram entre 1998 e 2008. Mas um município como Bayeux, na região metropolitana, com cerca de 95 mil habitantes, teve 84 assassinatos por 100 mil habitantes em 2009, um índice ‘avassalador’, segundo Nóbrega, comparado à média nacional, de 26,4 homicídios anuais.”
 

Converse MAIS com seus filhos e filhas (e netos e netas também)


Crianças, adolescentes e jovens adultos se beneficiam de comunicação constante com pessoas em que confiam (e que são sensatas!). Uma certa intimidade é necessária para que essas pessoas jovens confiem em seus pais (e outros parentes) em situações que considerem problemáticas. Essa interação e a intimidade que, freqüentemente, advém dela, também ajudarão os pais a perceber quando algo não vai bem.
Crianças e adolescentes com boas relações com pais e outros familiares, psicologicamente próximas, tem risco menor de fumar, beber e consumir outras drogas, ilegais.
Não são só os meninos e rapazes que estão em situação de alto risco: as meninas também. Nos Estados Unidos, na faixa de 12 a 17 anos, consomem tanta bebida alcoólica quanto os rapazes, fumam mais do que eles e usam mais remédios de tarja preta – ilegalmente, claro.
O consumo de álcool não deixa de ser perigoso porque é legal. Quem bebe tem risco bem mais alto de ser vítima de crimes violentos, acidentes (no trânsito, afogamentos etc.), suicídio e homicídio.
As metanfetaminas tomaram o mercado americano e já entraram pesado no Brasil.
Falem com seus filhos, filhas, netos e netas!

Scans do cérebro mostram alterações devidas ao uso da cocaína

Pesquisadores do Trinity College em Dublin liderados por Hugh Garavan mostraram que o cérebro de usuários de cocaína tem uma atividade aumentada no córtex pré-frontal quando resolvem problemas em computadores. As áreas mais afetadas são as relacionadas com o controle comportamental e com a toma de decisões.

Esses resultados ajudam a repensar o problema das drogas – menos como um problema moral e mais como um problema médico e criminogênico. Garavan também hipotetiza que há estruturas cerebrais mais e menos predispostas ao vício. Do ponto de vista médico, um problema sério é que não há medicamento eficiente no trato da dependência de cocaína.

Até agora, o tratamento tem que ser outro.

Scans do cérebro mostram alterações devidas ao uso da cocaína

Pesquisadores do Trinity College em Dublin liderados por Hugh Garavan mostraram que o cérebro de usuários de cocaína tem uma atividade aumentada no córtex pré-frontal quando resolvem problemas em computadores. As áreas mais afetadas são as relacionadas com o controle comportamental e com a toma de decisões.

Esses resultados ajudam a repensar o problema das drogas – menos como um problema moral e mais como um problema médico e criminogênico. Garavan também hipotetiza que há estruturas cerebrais mais e menos predispostas ao vício. Do ponto de vista médico, um problema sério é que não há medicamento eficiente no trato da dependência de cocaína.

Até agora, o tratamento tem que ser outro.