Arquivo da categoria: drogas e estruturas cerebrais

Mais aresultados do Disque-Denúncia

Informação do Zéca Borges:

Policiais do 14º BPM (Bangu) apreenderam, há pouco, sete fuzis dentro de uma cisterna, na favela Vila Vintém, em Padre Miguel. Os policiais fizeram a incursão na comunidade para checar a informação do armazenamento das armas que foram recebidas pelo Disque-Denúncia (2253-1177). Além das armas foram apreendidos ainda grande quantidade de drogas, carregadores e munição. É a sociedade ajudando a polícia em benefício de ambos.

FILHOS DEMAIS OU PAIS DE MENOS?

Há quatro anos, César Maia atribuiu a responsabilidades pelos crimes e violência às altas taxas de natalidade das classes menos favorecidas. É a velha tese da “explosão demográfica”. Porém, no Brasil, a “explosão demográfica” já aconteceu: as taxas de natalidade de todas as classes entraram em queda livre há décadas. A taxa de natalidade, que era 4,4, em 1950 caiu para 2,1 em 1998, menos da metade. Essas taxas decresceram, mas as de homicídios cresceram. Há outro argumento, mais sofisticado, baseado nas migrações internas. Quando é grande o número de jovens as instituições de controle social ficam oneradas: as escolas (que pioram a qualidade e reduzem os serviços e a sua personalização), as facilidades de recreação, esporte e lazer, os serviços sociais, a própria polícia e as oportunidades de emprego. Há mais crianças por adulto na família, por sala de aula, e por cada pessoa que trabalha nos vários serviços de atendimento.Porém, a estrutura e a qualidade da família são importantes. O sexo irresponsável não se refere apenas às doenças sexualmente transmissíveis e à gravidez prematura, mas ao que acontece depois da gravidez. Muitos jovens pais enfrentam problemas econômicos, mas outros são, apenas, irresponsáveis, preocupados com eles mesmos, ausentes por opção.A ausência dos pais contribui para a delinqüência e o crime dos filhos. Para William S. Comanor, da Universidade da California, em Santa Barbara, a ausência paterna dobra a probabilidade de cometer crimes. Willie J. Edwards, da Texas A & M University, contrastou uma amostra de delinqüentes e outra de não delinqüentes: 65% dos delinqüentes não tinham uma figura paterna presente, em contraste com 15% dos não delinqüentes. É uma tradição estabelecida em psicanálise: William Healy, no clássico The Individual Delinquent, publicado em 1915, já estimava que 49% dos delinqüentes provinham de famílias incompletas. August Aichorn, um psicanalista do círculo freudiano, foi mais longe, relacionando a ausência paterna não apenas ao crime, mas também à doença mental, ao abuso emocional e à privação de amor e sentimentos afetivos positivos.Uma meta-análise de 50 pesquisas feitas entre 1925 e 1985 encontrou correlações consistentes entre famílias incompletas e uso de drogas, fugas da casa, ausência escolar e vários crimes. A associação era válida para todos os grupos: meninas e meninos, brancos e negros.A ausência paterna gera problemas que foram constatados em muitos países. Na Grã-Bretanha meninos e adolescentes (11 a 15 anos) que viviam com os pais apresentaram uma taxa de 5,7 de desordens comportamentais, porém, os que viviam com apenas um dos pais apresentavam uma taxa três vezes mais alta, 17,6. Assim, a estrutura da família conta. Porém, há mais: várias pesquisas demonstraram a influência negativa da violência doméstica, da disciplina excessiva, violenta ou inconsistente e da ausência de supervisão e contato mesmo em famílias “completas”. A qualidade da vida familiar também conta muito. Patricia Van Voorhis, da Universidade de Cincinnati, mostrou que os atributos que mais se correlacionam com o crime são a falta de afeto e carinho, falta de supervisão e orientação, conflito, abuso e pouco prazer e diversão em casa. Binder, Géis e Bruce, no seu clássico livro Juvenile Delinquency notaram que a falta de afeto e de supervisão se relacionam com consumo de drogas e crimes contra a propriedade, ao passo que os efeitos do abuso e da violência doméstica aparecem mais tarde e estão relacionados com crimes violentos.Muitos jovens recorrem ao crime por não terem as qualificações para os bons empregos. A educação conta! Parte do efeito da família sobre o crime passa pela educação: os que crescem com famílias completas têm notas mais altas e taxas de deserção e absenteísmo mais baixas, assim como aspirações educacionais mais altas. Os efeitos da ruptura familiar são duradouros. Participei de um estudo de “meninos de rua” no DF, que confirmou essa relação: entre os que estudavam, 14% usavam drogas; entre os que não estudavam, 28% usavam drogas e entre os que não tinham escolaridade, 31% usavam drogas. Mostrou, também, relação entre a violência doméstica e o consumo de drogas: 40% entre os que foram vítimas de violência doméstica com objetos consumiam drogas; 33% entre os que apanhavam, mas sem objetos, baixando para 16% nos casos em que os meninos e meninas declararam não terem sido vítimas de violência doméstica.A ausência paterna também afeta a classe média e seus efeitos deletérios se fazem sentir em muitos jovens. O sucesso e o consumismo ocupam muitos pais e mães, restando pouco tempo de qualidade para os filhos. Os pais estão lá, mas suas funções não. Muitos jovens de classe média consomem drogas contribuindo com o dinheiro “do asfalto” para comprar armas que matarão alguém na favela. Pais ausentes ou indiferentes tanto no asfalto quanto no morro ajudam a tecer a teia de crime e violência que aprisiona as cidades e vitima seus próprios filhos.

Mães maconheiras, filhos delinqüentes

Há várias pesquisas que demonstram que a exposição pré-natal às toxinas do álcool e dos cigarros aumentam o risco de delinqüência para os filhos e filhas quando atingem a adolescência. Pesquisas mais recentes demonstram que o uso de maconha pela mãe também aumenta o risco de delinqüência dos filhos e filhas anos mais tarde. L. Goldschmidt e outros pesquisadores acompanham 600 mulheres de baixa renda durante uma década após darem a luz. Aos dez anos de idade, os pesquisadores aplicaram uma bateria de testes, inclusive alguns preenchidos pelos professores e professoras. Os resultados mostram que a exposição pré-natal à maconha provoca hiperatividade, impulsividade e dificuldades com a concentração e a atenção. Os primeiros sintomas de delinqüência apareceram com muito maior freqüência entre os meninos e meninas cujas mães fumaram maconha durante a gravidez. Essa relação se manteve depois que variáveis relevantes foram controladas.

Esses problemas não foram surpresa para os pesquisadores. Quando as crianças tinham apenas seis anos de idade, os sintomas já estavam presentes. Na escola, professores avaliaram as crianças no segundo e no terceiro semestre: aqueles cujas mães tinham fumado maconha tinham comportamento delinqüente com muito mais freqüência que os demais, ainda que igualmente pobres. Piores foram os resultados sobre a inteligência dos meninos e meninas, cujos escores nos testes de inteligência eram consideravelmente mais baixos.

Muito antes, outro estudo, dirigido por Peter Fried concluiu que o uso de maconha pela mãe reduzia a capacidade das crianças de controlar o impulso e sua capacidade de avaliar situações, mas não produzia uma redução na inteligência.

Os resultados da pesquisa dirigida por Goldschmidt, que foi maior e longitudinal, foram piores.

—–

Ver “Effects of prenatal marijuana exposure on child behavior problems at age 10,” L. Goldschmidt, N. L. Day, and G. A. Richardson, Neurotoxicology and Teratology, Vol. 22, No. 3, May-June 2000, págs. 325-336, e

“Effect of prenatal marijuana exposure on the cognitive development of offspring at age three,” N. L. Day, G. A. Richardson, L. Goldschmidt, N. Robles, P. M. Taylor, D. S. Stoffer, M. D. Cornelius, and D. Geva, Neuro-toxicology and Teratology, Vol. . 16, No o. 2, March-April 1994, págs. 169-175.

Drogas durante a gravidez: efeitos sobre os filhos

Topley J, Windsor D, Williams R. são pesquisadores britânicos que querem conhecer as conseqüências da ingestão de drogas durante a gravidez para os filhos. Afirmam que conhecemos pouco sobre as conseqüências do consumo de drogas pelas mães para os fetos e os filhos, particularmente as de longo prazo. As chamadas drogas de classe A (cocaína mais usada nos Estados Unidos; e heroína e anfetaminas na Grã-Bretanha) trazem sérias conseqüências – o que não quer dizer que outros tipos de drogas não tenham conseqüências também sérias.
Eles estudaram 62 crianças cujas mães tinham consumido drogas durante a gravidez. Ou seja, crianças que consumiram drogas quando eram fetos.
O que aconteceu com elas?
Na escola, 18% precisavam (e recebiam) ajuda extra; 19% tinham problemas comportamentais e problemas com a falta de concentração. Porém, parte desses problemas (4 de 12 crianças) era explicada pelas inadequações das mães. Três crianças tinham a síndrome alcoólica fetal. Vinte e seis (42%) foram colocadas sob custódia (Child Protection Register). Nada menos do que dez (16%) provocaram medidas protetivas. Das 22 mais problemáticas, nove foram adotadas e dez colocadas sob a custódia de outros familiares.
A primeira conclusão da pesquisa é evidente: muitas mais que se drogam durante a gravidez continuam a ser problemáticas depois do parto e geram problemas adicionais para seus filhos e filhas, sendo dificil separar os problemas derivados da ingestão intra-uterina de drogas dos problemas da maternidade disfuncional. Em verdade, a ingestão de drogas pela gestante é tanto um problema em si para o desenvolvimento fetal quanto um indicador de inadequação para a maternidade. Não obstante, uma percentagem substancial das crianças, colocadas em ambientes familiares adequados, tiveram um desenvolvimento aceitável.
Fonte: Behavioural, developmental and child protection outcomes following exposure to Class A drugs in pregnancy. Child Care Health Dev. 2008 Jan;34(1):71-6.

Converse MAIS com seus filhos e filhas (e netos e netas também)


Crianças, adolescentes e jovens adultos se beneficiam de comunicação constante com pessoas em que confiam (e que são sensatas!). Uma certa intimidade é necessária para que essas pessoas jovens confiem em seus pais (e outros parentes) em situações que considerem problemáticas. Essa interação e a intimidade que, freqüentemente, advém dela, também ajudarão os pais a perceber quando algo não vai bem.
Crianças e adolescentes com boas relações com pais e outros familiares, psicologicamente próximas, tem risco menor de fumar, beber e consumir outras drogas, ilegais.
Não são só os meninos e rapazes que estão em situação de alto risco: as meninas também. Nos Estados Unidos, na faixa de 12 a 17 anos, consomem tanta bebida alcoólica quanto os rapazes, fumam mais do que eles e usam mais remédios de tarja preta – ilegalmente, claro.
O consumo de álcool não deixa de ser perigoso porque é legal. Quem bebe tem risco bem mais alto de ser vítima de crimes violentos, acidentes (no trânsito, afogamentos etc.), suicídio e homicídio.
As metanfetaminas tomaram o mercado americano e já entraram pesado no Brasil.
Falem com seus filhos, filhas, netos e netas!

Scans do cérebro mostram alterações devidas ao uso da cocaína

Pesquisadores do Trinity College em Dublin liderados por Hugh Garavan mostraram que o cérebro de usuários de cocaína tem uma atividade aumentada no córtex pré-frontal quando resolvem problemas em computadores. As áreas mais afetadas são as relacionadas com o controle comportamental e com a toma de decisões.

Esses resultados ajudam a repensar o problema das drogas – menos como um problema moral e mais como um problema médico e criminogênico. Garavan também hipotetiza que há estruturas cerebrais mais e menos predispostas ao vício. Do ponto de vista médico, um problema sério é que não há medicamento eficiente no trato da dependência de cocaína.

Até agora, o tratamento tem que ser outro.

Scans do cérebro mostram alterações devidas ao uso da cocaína

Pesquisadores do Trinity College em Dublin liderados por Hugh Garavan mostraram que o cérebro de usuários de cocaína tem uma atividade aumentada no córtex pré-frontal quando resolvem problemas em computadores. As áreas mais afetadas são as relacionadas com o controle comportamental e com a toma de decisões.

Esses resultados ajudam a repensar o problema das drogas – menos como um problema moral e mais como um problema médico e criminogênico. Garavan também hipotetiza que há estruturas cerebrais mais e menos predispostas ao vício. Do ponto de vista médico, um problema sério é que não há medicamento eficiente no trato da dependência de cocaína.

Até agora, o tratamento tem que ser outro.